A vida vira e mexe nos apresenta episódios de ascenções meteóricas seguidas de quedas mais rápidas ainda. Foi justamente o que aconteceu com o jogo Flappy Bird que, com uma mecânica simples e nível de dificuldade extremo, saiu do ostracismo para o primeiro lugar nas lojas de Apple e Google só para mais tarde morrer por decisão do próprio criador. No jogo, o objetivo é conduzir um pássaro entre canos tocando a tela para levantá-lo, enquanto a gravidade o puxa para baixo.

Nascimento

Dong Nguyen, um desenvolvedor de jogos para iOS e Flash baseado no Vietnam, nunca imaginou que um jogo simples, programado em 3 dias, fosse virar o centro das atenções do mundo tech por algumas semanas. Em abril de 2013, o projeto chamado “Flap Flap” foi mostrado pela primeira vez ao mundo na forma de uma captura de tela divulgada no Twitter de Nguyen. Os pouco mais de 100 seguidores dele também não imaginavam que era o começo de uma saga bem interessante. Após apenas 2 dias de programação, o jogo foi enviado para a App Store, da Apple, onde acabou tendo que trocar o nome para o atual, Flappy Bird, devido a outro app com o mesmo nome que já existia na loja. Em 24 de maio de 2013, o jogo apareceu na loja, sem muito destaque. Até o final de outubro de 2013, pouco se ouviu falar do game. Muitos especulam o que aconteceu para o jogo começar uma ascenção meteórica. Um fato marcante foi que, em outubro, o jogo entrou na categoria “Família” da App Store, e alguns poucos comentários começaram a aparecer no Twitter, a maioria expressando frustração pela dificuldade do game.

Ascenção

Após entrar na categoria “Família”, o Flappy Bird começou uma tímida mas constante ascenção nos rankings da App Store e só em novembro mais reviews apareceram do que nos 6 meses anteriores. De novo, a maioria dos comentários dos avaliadores era sobre a relação de amor e ódio com o viciante mas frustrante jogo. Em dezembro, o Flappy Bird entrou no ranking geral da App Store e continuou ganhando popularidade. Os comentários no Twitter e avaliações na loja da Apple aumentavam a cada dia. Ainda neste mês, o desenvolvedor prometeu uma versão para Android, que chegaria algumas semanas depois ao Google Play. No meio do mês, o jogo chegou ao topo dos rankings da App Store e, inclusive, vários memes surgiram. Neste momento o game ganhava, por dia, a mesma quantidade de avaliações que ganhou em novembro inteiro.

Topo

Em janeiro, o sucesso do jogo era incontestável e o Flappy Bird já aparecia entre os 10 aplicativos mais baixados da loja da Apple. Neste ponto, muitos desenvolvedores e blogueiros suspeitavam que o desenvolvedor teria usados práticas escusas para conseguir sucesso, o que sempre foi prontamente negado por Nguyen. Análises posteriores mostram que realmente parece se tratar de um fenômeno viral natural, sem artifícios. Em 17 de janeiro, o jogo já era número 1 na App Store e em 22 do mesmo mês chegou à Google Play, disparando para a primeira posição quase que imediatamente. No final do mês, quase todos os grandes sites de tecnologia, jogos e smartphones/tablets já haviam escrito alguma coisa sobre o Flappy Bird. No auge do sucesso, especula-se que o game tenha gerado US$ 50.000,00 por dia em receitas de anúncio para o desenvolvedor.

O Fim

Para qualquer pessoa, uma história como a do Flappy Bird seria um sonho e o ponto alto da carreira. Para Dong Nguyen, contudo, o sonho virou pesadelo. Entre inúmeros pedidos de entrevista, emails, tweets e vários relatos de pessoas que passavam horas jogando e ficando frustradas com o jogo, Nguyen começou a demonstrar, via Twitter, que queria paz. Foram várias as recusas para entrevistas e pedidos para que a imprensa “o deixasse em paz”. Como toda história de sucesso na internet, a história do Flappy Bird também veio acompanhada de muitos xingamentos e até ameaças de morte para o criador. Além disto, vários veículos de comunicação acusavam Nguyen de copiar outros jogos, usar arte de empresas famosas, como Nintendo, e de ter usado bots e outras práticas imorais para promover o app. Cansado da pressão, Nguyen divulgou no Twitter, no dia 9 de fevereiro, que tiraria o Flappy Bird do ar em 22 horas. Muitos viram isto como uma grande jogada de marketing. Não era. Em 10 de fevereiro o jogo desapareceu da App Store e da Google Play, o que gerou inclusive um mercado paralelo de venda de smartphones com o jogo instalado no ebay, tamanha a procura.

Próximos capítulos

Ainda é cedo para saber se a história do Flappy Bird termina aqui ou se teremos novos capítulos mas, por enquanto, o criador garante que o jogo não voltará e que não será vendido, por ser viciante demais. Enquanto isso, vários clones já surgiram nas lojas de aplicativos de Apple e Google, na esperança de pegar os mais desatentos. Segundo os últimos tweets do criador, parece que foi mesmo o fim. Flappy Bird, agora (e por enquanto), pertence à história da era pós-PC.

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