Evidências do uso de perfis falsos durante as eleições brasileiras

A investigação da BBC Brasil ocorreu durante três meses e, indica, principalmente, que um “exército” de contas virtuais falsas foi usado por uma empresa do Rio de Janeiro nas eleições brasileiras de 2014. Além disto, um jovem relatou ganhar R$ 1,2 mil por mês para controlar diversos perfis fakes. Segundo o rapaz de 18 anos, ele postava atualizações de status comuns: “Estou com muita fome”, por exemplo. Essa estratégia era usada para o perfil parecer mais “humano” e menos óbvio. A estratégia usada aqui é semelhante àquela usada por russos nas eleições americanas, podendo existir no Brasil desde 2012. Quatro ex-funcionários da empresa do Rio foram entrevistados, e, com a ajuda deles, foram identificados 13 políticos que teriam se beneficiado com o uso desses perfis. “Ou vencíamos pelo volume, já que a nossa quantidade de posts era muito maior do que o público em geral conseguia contra-argumentar, ou conseguíamos estimular pessoas reais, militâncias, a comprarem nossa briga. Criávamos uma noção de maioria“, diz um dos ex-funcionários entrevistados.

“Os ciborgues ou personas geram cortinas de fumaça, orientando discussões para determinados temas, atacando adversários políticos e criando rumores, com clima de ‘já ganhou’ ou ‘já perdeu’“, afirma Fábio Malini, coordenador de pesquisas do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da UFES. Ainda segundo Malini, os ciborgues, que são a evolução dos bots, se utilizam do “comportamento de manada“.

Legião de mentiras

Ainda segundo os entrevistados, em 2012 o empresário carioca Eduardo Trevisan, que é proprietário da Facemedia, teria iniciado a mobilização de um exército de perfis falsos. A empresa, que é registrada como Face Comunicação On Line Ltda contratou cerca de 40 pessoas em todo o Brasil. O objetivo era atuar em campanhas políticas. O empresário negou que a empresa tinha este foco: “Nós fazemos monitoramento e rastreamento de redes sociais”, afirmou Trevisan. Ele possui, ainda, uma página chamada “Lei Seca RJ“, que possui mais de 1 milhão de seguidores e ajuda motoristas a “driblarem” as blitzes do Rio de Janeiro.

Políticos envolvidos no caso

Dentre os 13 políticos identificados estão o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) e os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Renan Calheiros (PMDB-AL). Mostrando comportamentos diversificados, os perfis falsos elogiavam, por exemplo, Aécio Neves durante os debates de 2014. Quanto a Renan Calheiros, foi criada uma hashtag: #MexeuComRenanMexeuComigo, que visava defender o senador daqueles que pediam o impeachment. Por fim, houve divulgação de votos para divulgação positiva de Eunício Oliveira: “Vou com 15. Melhores propostas”.

Identificando os fakes

Os especialistas do caso levaram em consideração: uso de fotos comprovadamente falsas ou roubadas; mensagens publicadas através de ferramentas externas ao site; padrão de mensagens rotineiras; publicações feitas somente durante horários convenientes; agressões ou apoio exagerado a determinados candidatos e, também, coincidências em relação a ativação e desativação de vários perfis no mesmo horário.

Pagamentos

A investigação da BBC Brasil mostrou a ligação de Facemedia, a empresa de Trevisan, com três políticos e o partido PSDB. Em 2014, Trevisan recebeu R$ 360 mil do Comitê Nacional do PSDB pela “prestação de serviços de marketing e comunicação digital“. No mesmo ano, a mesma empresa recebeu outros R$ 200 mil de Renan Filho (PSDB). Mais R$ 30 mil foram entregues por Vital do Rêgo Filho, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) pela “divulgação regular de sua campanha”. Em 2017, a Facemedia recebeu R$ 14 mil por mês, entre os meses de fevereiro e setembro, totalizando R$ 112 mil. Este dinheiro veio da cota parlamentar do gabinete da deputada federal Laura Carneiro (PMDB-RJ). Sua assessoria afirma que a deputada não tem conhecimento do uso específico dos recursos. E você, está surpreso com o que rola por trás das eleições brasileiras ou já esperava? Comente abaixo. Fonte: BBC Brasil

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