O Showmetech recebeu um cópia de Watch Dogs Legion para PlayStation 4 da Ubisoft e, após alguns dias hackeando Londres e combatendo o fascismo digital (mesmo que em meio a vários problemas técnicos e de performance), trazemos uma análise completa desse game que convida o jogador a criar um grupo diversificado de personagens e utilizar toda a tecnologia para lutar contra as autoridades opressoras do mundo moderno.

De bit em bit, você faz uma revolução

Enquanto o primeiro Watch Dogs tem uma péssima fama em relação ao downgrade gráfico da versão final do game, o segundo título conseguiu redimir a série e apresentou um gameplay divertido com bons personagens. Já Watch Dogs Legion reúne todas as ideias de seus antecessores e os expande de forma ampla. O cenário mudou das cidades digitais dos Estados Unidos como Chicago e São Francisco para a clássica Londres, mas o game não apenas introduz uma nova localidade na série mas uma mecânica inédita nos games de mundo aberto: você pode jogar com qualquer pessoa que encontrar. Dessa forma, o jogador pode formar sua própria “legião” de hackers com diferentes habilidades e equipamentos. Porém, mesmo que essa ideia de “unidos venceremos” para simbolizar a luta dos hackers contra um sistema opressor, a abordagem tem vários problemas ao longo da história do game e a mensagem verdadeira pode acabar se perdendo em meio a tantos personagens genéricos e um número exagerado de missões repetitivas e sem profundidade. A história de Watch Dogs Legion se passa, assim com nos títulos anteriores, em um futuro não muito distante em que Londres é uma das cidades mais digitalmente avançadas do mundo. O grupo de hackers ativistas DeadSec foi acusado de uma série de atentados na metrópole e seus membros agora são considerados terroristas altamente perigosos. Porém, tudo isso foi planejado pelo misterioso hacker rival conhecido como Zero Day. O pior de tudo é que, no caos desses atentados os cidadãos de Londres acabam se vendo nas garras de um grupo militar facista chamado Albion, entre outras empresas privadas sem escrúpulos. Agora, totalmente desmantelado e desmoralizado, o DeadSec precisa recomeçar do zero recrutando cidadãos comuns que desejem se juntar a causa, sejam eles trabalhadores de construção ou mesmo velhas senhoras. Uma vez que você pode trocar de personagem para outro membro de sua equipe quando desejar, Watch Dogs Legion perde um pouco de sua identidade e tenta focar mais no aspecto coletivo. Essa estratégia funciona de forma a permitir que a Londres retratada pelo game assuma o papel de personagem principal da aventura, torna-se a gigantesca malha que conecta todos os personagens entre si. A Londres de Watch Dogs Legion é uma versão mais avançada daquela do mundo real com um toque preciso de cyberpunk distópico. A história da cidade e seus marcos icônicos servem como um pano de fundo para o futurismo radical em que todas as esquinas tem uma tela gigante com propagandas e informações atualizadas e todas as ruas são patrulhadas por um exército de drones militares e comerciais. Mesmo que isso pareça um futuro exageradamente digitalizado, a Londres de Watch Dogs Legion é um playground empolgante para os hackers. Em um jogo com vários personagens jogáveis, a única constante que você terá entre eles é sua conexão com a própria Londres. Cada um dos oito distritos tem suas próprias culturas, demografia e estilos culturais variados, tornando a capital da Inglaterra um lugar empolgante para explorar. O jogo consegue captar a história e a diversidade cultural de Londres com precisão, ao mesmo tempo que coloca esses aspectos frente a frente com a forma autoritária que a Albion investiga e detém cidadãos a qualquer momento e em qualquer lugar. Mesmo que de maneira tão impactante, a Londres desenhada por Watch Dogs Legion e a forma como seus cidadãos precisam enfrentar o punho de ferro de organizações militares e o capitalismo desenfreado de instituições privadas, tratam de tópicos relacionados ao nacionalismo, xenofobia e que classe de pessoas deve estar no controle. Não são raras as vezes em que o jogador se encontrará em alguma missão que se relacione de certa forma aos acontecimentos da vida real, especialmente nos temas que tratam do tratamento desumano aos cidadãos de baixa renda, com diferentes orientações sexuais e até mesmo aos imigrantes. Se puder, dedique um tempo aos suplementos narrativos do game que envolvem mensagens de texto, podcasts e outros documentos que você pode achar pelos cantos de Londres. Eles expões ainda mais as questões cruciais que assolam a sociedade do game. Quanto mais você aprende sobre as atitudes cruéis da Albion e de outras empresas privadas, mais conectado você se sente aos ideias do DeadSec e consegue se envolver de forma mais profunda no objetivo final desse grupo que está agindo pela causa certa, mesmo que nas sombras: libertar Londres. É uma pena que esse ideal tão nobre a mensagem tão atual se percam na infinidade de personagens diferentes com que você pode jogar e no mundo amplo de Londres que se pode explorar. Com um escopo principal tão amplo, a campanha da história com cerca de 25 horas de duração parece apenas uma gota no oceano de coisas que você pode fazer de forma secundária como bairros para libertar, personagens para recrutar e upgrades para realizar.

Bem-vindo ao DeadSec, eu serei seu guia!

Assim como nos títulos anteriores, Watch Dogs Legion gira em torno de três mecânicas principais com o mundo aberto de pano de fundo: exploração, combate (furtividade) e hackear tudo que for possível. Como o hacking foi mais simplificado e agora você tem muito mais itens digitais a sua disposição, você pode completar a maior das missões da forma simples ou da forma difícil. A simples envolve utilizar os sistemas digitais (e até mesmo uma pequena aranha-robô) para concluir seu objetivo, sem que seus inimigos saiba que você esteve perto deles. Por outro lado, você pode ignorar suas habilidades de hacker totalmente e enfrentar seus adversários cara-a-cara, pois o combate é simples, direto e a IA dos inimigos não é das mais inteligentes. Porém, as verdadeiras estrelas de Watch Dogs Legion são os cidadãos de Londres, todos gerados aleatoriamente com base em várias profissões, origens étnicas e uma combinação de vestuário que nem sempre dá certo. Enquanto nos jogos anteriores você aprendia informações superficiais sobre os cidadãos ao seu redor, aqui você pode usar essas informações para explorar os clientes em potencial. Apenas lembre-se que recrutar um cidadão londrino para o DeadSec envolve algo em troca, então prepare-se para concluir alguma missão para selar o vínculo com seu novo recruta. Com uma lista tão vasta de personagens, você precisa ficar atento ao time de hackers que você vai montar para suas missões. Por exemplo, você vai querer alguém que consiga hackear dispositivos mais rapidamente, outro que seja mais habilidoso no volante e um que se saia bem no combate corpo-a-corpo. Não se esqueça que, mesmo uma velha senhora pode ser útil para seu time. Afinal, quem iria suspeitar que uma amável senhora de idade é uma hacker profissional do DeadSec que pode invadir uma instalação governamental? Watch Dogs Legion ainda oferece a opção de jogar com o recurso de “permadeath” ativado, ou seja, uma vez que um de seus operativos caem em uma missão, eles se vão para sempre. É uma adição inteligente que adiciona um pouco mais de realismo e um maior senso de consequência à campanha, o que pode tornar algumas das missões mais ousadas mais estressantes, especialmente sabendo que perder um operativo favorito deixará o jogador com um gosto amargo na boca. O fluxo constante de novos personagens no jogo e as oportunidades que surgem certamente criam um cenário convidativo para que o jogador se esqueça das missões principais para atender aos requisitos necessários para recrutá-los. No entanto, você eventualmente também cairá em um ciclo repetitivo de objetivos reciclados e diálogos, mesmo com vozes diferentes. Essa repetição deixa a sensação que Londres é pequena e mostra que até mesmo o gerador de aleatoriedade da Ubisoft tem seus limites. Mesmo que alguns designs de personagens possam parecer bobos ou exagerados (principalmente dependendo da forma como você os customiza e qual máscara você escolhe), Watch Dogs Legion consegue manter sua mensagem forte ao mesmo tempo em que proporciona uma jogabilidade divertida e emocionante. Infelizmente Watch Dogs Legion sofre do mesmo mal que tantos outros títulos da Ubisoft (e que já renderam uma péssima fama à empresa): bugs e glitches. No PS4 — durante a produção dessa análise — foram encontrados diversos problemas de performance como o carregamento de texturas e sincronismo labial dos personagens até bugs que provocavam o travamento total do game e impediu o progresso na campanha principal. Até mesmo no novo Xbox Series X e S foi relatado um bug que causava o superaquecimento e desligamento do console, além de problemas no PC com as placas da NVIDIA para reproduzir o game com o recurso RTX e de Ray tracing ativado. Esperam-se que pacotes de atualização corrijam esses problemas de software em breve mas é frustrante perceber que, mesmo depois de tantos episódios problemáticos semelhantes em outros games, a Ubisoft insiste em lançar seus jogos com tantos problemas técnicos.

Watch Dogs Legion: um hack quase perfeito

Watch Dogs Legion faz muito para confrontar tópicos como fascismo, desigualdade e a ideia de que a nova tecnologia expõe e amplifica velhos medos e ódios. O game não só faz um trabalho eficaz de mostrar a banalidade do mal à vista de todos, mas também, em de uma forma mais otimista, mostra como os cidadãos são capazes de se unir em prol de uma causa justa e estão dispostos a arriscar suas vidas para superar a opressão. Uma mensagem atual que ressoa de forma uníssona com nossa realidade. Além disso, essa aventura antifascista reforça de forma bem trabalhada a jogabilidade de hacking inteligente da franquia para oferecer mais criatividade do que nunca. A diversidade de habilidades e de origens culturais do time DeadSec que você obterá até o fim do game é um retrato fiel do povo londrino: um grupo étnico misto, mas que no fundo possui um único objetivo: lutar por justiça, igualdade e liberdade, acima de tudo. Se mesmo com alguns tropeços técnicos e algumas mecânicas que possam parecer repetitiva, o jogador conseguir captar essa mensagem quando ele ver os créditos rolarem pela tela, então Watch Dogs Legion terá cumprido sua meta. Gostou do jogo? Conte pra gente nos comentários.

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