Na produção espanhola, Santoro (300) faz o papel do português Fernão de Magalhães, que mudou o mundo ao conseguir fazer a primeira circum-navegação da Terra e dá o nome ao Estreito no fim da América do Sul e a um pinguim residente da região. Morte faz Juan Sebastián Elcano, que realizou a metade final da jornada de Magalhães. A série é inspirada nas duas paradas dos aventureiros pelo Brasil, no Recife e Rio de Janeiro. O enredo acompanha 237 tripulantes em uma viagem que ocorreu em 20 de agosto de 1519 e levaria todos em um caminho menor para as Índias, mas que provou ser uma extensa jornada ao redor do globo, com duração de longos três anos.

Rodrigo Santoro e Álvaro Morte são conquistadores ambiciosos

Magalhães (Santoro) é um sonhador ambicioso, cheio de arrogância e paga diversos preços por sua falta de conexão com a realidade. O espanhol Elcano (Morte) é o personagem mais simpático da dupla, um aventureiro irreverente que só foi ter sorte na vida ao entrar na expedição improvável a mando da coroa espanhola. O rei Carlos I, jovem e querendo provar sua capacidade, aposta na empreitada na época em que Portugal dominava o comércio marítimo e a Espanha ficava com as sobras. A história recontada não está nada longe da aventura real, em boa parte dos fatos. Magalhães estava à frente de seu tempo, como outros grandes inovadores do mar a quem homenageia, como Américo Vespúcio e Cristóvão Colombo. O conhecimento geográfico limitado da época fazia com que a rota indicada por Magalhães fosse admiravelmente corajosa. A coragem renderia à Espanha muitas riquezas por décadas a fio. Já Elcano é um personagem recriado romanticamente. Lembra muito o Professor da Casa de Papel, com sua rebeldia contra o sistema e apego aos colegas de desventuras. Aqui a primeira falha, principalmente aos olhos dos brasileiros. Os marinheiros são descritos por Elcano como “apenas homens que sabem que podem morrer a qualquer dia”. O lado mais violento da colonização é relativizado com o lado heroico desses personagens.

Sem Limites traz indígenas bonzinhos e outros nem tanto

Uma parte bem curiosa, especialmente para os brasileiros, é a parada que a expedição de Magalhães faz em terra indígena sul-americana. A história registra duas paradas dos navios, em Recife e Rio de Janeiro. A primeira parada, contada na trama, parece muito com a costa do Nordeste do Brasil e os indígenas têm uma cara bem brasileira. A produção foi filmada na República Dominicana, explicando a semelhança. Mais uma vez, a necessidade de fazer uma trama envolvente faz pecar um pouco para o registro histórico. Os indígenas recebem os navegadores com boas vindas e presentes e o convívio é bem harmônico, apenas Magalhães fica envergonhado com o comportamento bêbado e mulherengo dos marinheiros. Por mais desbravadores que possam ter sido os navegadores, bonzinhos e harmoniosos é o que não eram. A escravidão também é retratada de passagem e, novamente, os espanhóis parecem se compadecer e até ajudar cativos negros, mais uma cena difícil de acreditar. Ainda assim, para uma produção espanhola, dá até para notar uma vontade de equilibrar a trama com o relato histórico. Magalhães entra em conflito com indígenas nas Filipinas, uma luta que custa caro. Esses indígenas estão bem longe de parecer bonzinhos, mas falta contar que os europeus causaram a guerra, invadindo as terras e retirando tudo o que tinham os povos indígenas, inclusive sua dignidade.

Série no Prime Video destacada em fotografia e efeitos

A produção é bem curta, são apenas seis episódios nessa primeira (e única, a princípio) temporada. O último episódio é centrado em Elcano, e a atuação de Álvaro Morte segura com muita eficiência a finalização da trama. É uma história que, na verdade, não tem muito final. A ganância dos conquistadores europeus tem vários lances históricos que ainda poderiam ser contados. Elcano volta à Espanha apenas com 18 homens, depois de uma jornada dificílima. A direção da produção é de Simon West, que tem em seu currículo como maior sucesso Lara Croft: Tomb Raider. As sequências de ação ganham destaque, especialmente as lutas entre os marinheiros, que parecem inspiradas em filmes de piratas. No entanto, é no drama histórico de cada um dos personagens que a produção brilha. Cada desafio vencido por Magalhães e Elcano são obstáculos que seriam impensáveis para muitos poderosos atuais. A fotografia e os efeitos especiais são destaques da produção. O cenário trouxe reconstrução de navios antigos, palácios e masmorras de contrabandistas de escravos. As tempestades no mar são sequências interessantes, sendo um retrato fiel dos obstáculos que Magalhães superou. Até hoje, o Estreito de Magalhães é uma das regiões mais desafiadoras para navegação. A proximidade com o Polo Sul faz com que muitos aventureiros falhem em trilhar o mesmo caminho dos navegadores espanhóis até hoje.

Seis episódios deixa vontade de querer mais

A RTVE, canal de TV espanhol que produz o título, já fez outras séries históricas de sucesso. O Ministério do Tempo é uma produção com personagens históricos e literários como Dom Quixote. Álvaro Morte também faz parte do elenco. Sem Limites não tem segunda temporada prevista, mas o sucesso já veio. Até o Rei da Espanha, Felipe VI, esteve presente na estreia da série em Madrid com Rodrigo Santoro e Álvaro Morte. A expectativa dos fãs de dramas históricos é de que o Prime Video traga mais séries de qualidade, talvez agora com a perspectiva indígena. Fontes: Rotten Tomatoes, Prime Video